COMUNICAÇÕES EM EVENTOS


PIBID E A FORMAÇÃO DOCENTE: EXPERIÊNCIAS E CONSIDERAÇÕES

Caroline Matos Pires*¹

Suzana Lain Pagot²

Eixos Temáticos:  Docência e formação de professores

O presente resumo expandido pretende ponderar sobre a importância do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID) na formação do licenciando de Letras-Português e suas contribuições para a Instituição de Ensino na qual o projeto está inserido. Para tanto, serão abordados alguns estudos e  oficinas realizados pelo subprojeto do PIBID-UCS de Letras-Português no período de 2015 a 2017, no Colégio Estadual Imigrante, em Caxias do Sul, sob a supervisão da professora Silvete Müller.
Sabe-se que uma das dificuldades enfrentadas pelos licenciandos é a distância entre a escola ideal que é apresentada nos estudos de formação e a realidade enfrentada em estágios e colocação profissional. Diante disso, uma das propostas iniciais do PIBID, a de promover integração entre ensino básico e superior e diminuir a distância entre a teoria acadêmica e a prática docente, vem ao encontro dessa problemática, oportunizando experiências que preparem o graduando.
A possibilidade de atuar em todas as turmas da professora supervisora possibilita ao estudante contato com diversos grupos de alunos, auxiliando no reconhecimento dos contextos sociais, das necessidades e realidade da rede de ensino da região. Essa inserção é de extrema valia para o ensino de língua quando consideramos que “é preciso que se saiba que objetivos ou propósitos comunicativos se pretende alcançar com a atividade verbal, o que se vai escrever ou falar em determinada oportunidade.”(ANTUNES, 2007, p.47), pois, a partir do contato com diferentes realidades entre turnos ou mesmo turmas,  pode-se pensar a prática de maneira que a língua a ser estudada na escola seja significativa e funcional para o aluno em seus diferentes atos sociais.
Uma das oficinas aplicadas que demonstrou-se de extrema valia para a identificação das necessidades linguísticas dos colegiais foi a atividade intitulada “Desafios da linguagem”, em que os alunos responderam a diversos exercícios relacionados à língua portuguesa. Os exercícios eram sobre a identificação de problemas normativos da língua, interpretação e elaboração de textos conforme situações hipotéticas de uso. Com essa oficina, foi possível identificar as dificuldades do estudante em relação à norma culta e também perceber qual o uso recorrente da língua pelo estudante. O planejamento e a execução dessa atividade mostrou o quão fundamental é  preparar o licenciando para a futura atuação em sala de aula, pois sempre que inicia as atividades em uma nova turma, o professor precisa aplicar uma sondagem sobre o nível de conhecimento e as dificuldades dos estudantes.
Ao realizar esse tipo de análise, o pibidiano pode, além de planejar com mais segurança as ações futuras do projeto, compartilhar com a professora titular as percepções para que ela possa planejar o ano letivo. Essa ação de diagnóstico é também de vital importância para a Instituição de Ensino Superior em que o estudante está inserido, pois é possível compartilhar com os professores e colegas o cenário atual do ensino de língua, bem como possibilitar, mesmo aos que não participam do programa, relatos que auxiliem no direcionamento dos estudos, uma vez que poderão, desde a graduação, pesquisar sobre as necessidades de ensino de maneira mais pontual para a realidade escolar.
Além disso, no PIBID o estudante tem a chance de atuar em uma sala de aula enquanto está no ambiente acadêmico e pode, portanto, refletir junto a uma comunidade de pesquisadores e estudantes quanto à metodologia mais adequada para trabalhar em sala de aula. Sabe-se que “o ensino escolar nos inculcou, durante longos anos, a ideia de que não conhecemos a nossa língua”(PERINI, 2002, p.11), e, segundo o autor, essa percepção frustra os alunos da educação básica e os desmotiva a participarem das aulas de português, isso porque não percebem que já possuem um conhecimento da língua e que, na escola, terão a oportunidade de conhecer outras normas e variações para utilizarem em diferentes contextos sociais. Além de fazer com que o estudante reconheça sua capacidade de linguagem, é preciso que, em sala de aula, o professor demonstre aos alunos que
A linguagem, sendo representação de algo, serve para descrever, narrar apontar, etc. Mas a linguagem é também ação. Quem fala realiza atos de dizer, de prometer, de declarar, etc. Por isso, encontram-se às vezes, definições como essa: a linguagem é uma atividade universal, humana e se constitui de um sistema de sinais ou signos que seguem determinadas regras, e se pressupõe que sejam aceitos dentro de padrões históricos e sociais. (PAVIANI, 2012, p.26)

É preciso, então, inverter a forma de ensino, pois, como demonstrado por Perini (2002), essa visão de língua como instrumento de uso e ferramenta cotidiana apresentada por Paviani (2012)  não é trabalhada nas escolas. Logo, é necessário romper com a forma tradicional de ensino e criar aulas que apresentem a língua como uma atividade de comunicação e não como uma lista de regras e usos engessados. Entretanto, ao entrar em uma instituição de ensino, o licenciando é apresentado a professores que já estão habituados com o sistema vigente e são resistentes a mudanças, por isso, é fundamental que esse primeiro contato com a sala de aula seja mediado por um coordenador na instituição de ensino superior e outro na de ensino básico para que perceba ser possível, sim, criar aulas dinâmicas e significativas.
Para suprir essa necessidade, o PIBID desempenha um grande papel,  pois permite a criação de oficinas relevantes para formação da cidadania. Um exemplo de oficina criada com esse fim é a elaboração de um jornal da escola com o foco direcionado para algo que interessava aos estudantes: retratar o cotidiano e eventos escolares dos alunos. Motivados, eles participaram de oficinas  sobre  produção textual e estruturas linguísticas, pois, para redigirem os textos do jornal, sentiram a necessidade de apropriação da norma culta e do conhecimento sobre diferentes gêneros de texto. Com a aplicação dessa oficina, pode-se constatar que os estudantes, quando percebem a finalidade dos estudos sobre a língua e seu poder como meio de comunicação, desejam aprender uma variação diferente da que estão acostumados.
            A possibilidade de elaborar oficinas como as citadas anteriormente com o auxílio de um professor coordenador e colegas de projeto permite ao aluno de Letras criar um repertório de atividades, refletindo sobre os erros e os acertos, durante a sua formação. Assim, ao atuar na carreira docente ou mesmo iniciar os estágios da graduação, o licenciando sente-se mais seguro, pois conhece a recepção dos alunos a diferentes práticas e é capaz de planejar aulas mais relevantes para suas futuras turmas. As experiências vivenciadas no PIBID  contemplam as diferentes dimensões do papel do professor na escola. Confere, ainda, a competência de criar práticas pedagógicas com atividades lúdicas, integrando-as ao conteúdo que está sendo estudado, já que, paralelo a sua formação docente, pode refletir sobre maneiras relevantes de instrumentalizar os estudantes. Mais do que isso, autoriza, em suas aulas voltadas para a docência, ou mesmo nos estágios, compartilhar experiências, bem sucedidas ou não, com os colegas, de forma a enriquecer não apenas a si mesmo com o programa, mas também à Instituição de Ensino Superior na qual estuda.

Palavras-chave: docência. PIBID. Ensino de língua portuguesa.

REFERÊNCIAS

ANTUNES, Irandé. Muito além da gramática: por um ensino de línguas sem pedras no caminho. São Paulo: Parábola, 2007. 166 p. (Série estratégias de ensino; 5) ISBN 9788588456617.

PAVIANI, Neires Maria Soldatelli. Estudos da linguagem na educação. Caxias do Sul, RS: EDUCS, 2012. 128 p. ISBN 978857061666

PERINI, Mário Alberto. Sofrendo a gramática: ensaios sobre a linguagem. 3. ed. São Paulo: Ática, 2002. 102 p. ISBN 978850806729.


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